O Riacho
Canabrava, localizado no município de União dos Palmares, distante 80
quilômetros da capital, Maceió é um dos principais afluentes do Rio Mundaú na
bacia hidrográfica da região e foi transformado num esgoto a céu aberto no meio
da cidade. Com aproximadamente 18 quilômetros de extensão,
O Canabrava é um rio municipal, pois nasce e deságua dentro dos limites de União
dos Palmares. O contraste do percurso limpo na área rural e a degradação na
cidade se assemelham a de outros afluentes do Mundaú.
Surge a
partir de três nascentes localizadas no Povoado Barro Vermelho na zona rural do
município. As nascentes que estão em uma propriedade privada são preservadas
com vegetação ciliar, tornado a água límpida e potável. No percurso pela zona
rural observa-se que as margens do Canabrava não são preservadas com vegetação
ciliar, o que torna o riacho em alguns pontos assoreado. Ainda no meio rural,
as águas limpas do Canabrava são utilizadas na agricultura e pecuária.
A origem
do nome Canabrava veio segundo pesquisas, de uma planta comum nas margens do
riacho no passado. O vegetal que se assemelha a cana-de-açúcar de nome
Canafístola, era chamado pelos ribeirinhos de Canabrava e assim o riacho foi
batizado.
O passado
generoso do Canabrava ainda deixa lembranças nas pessoas que usavam suas águas
para executar as principais tarefas do lar. A aposentada Florzina Oliveira, 88,
que em meados dos anos 60, residia na antiga Rua Canabrava, hoje Avenida
Antônio Gomes, diz com riquezas de detalhes que utilizava as águas deste riacho
que ficava próximo a sua casa, para lavar roupas e tomar banho. Volumoso e
limpo, o Canabrava que tinha feições de rio, também servia para a pesca.
Segundo Dona Florzina, o riacho tinha muito “cará”, peixe típico de água doce,
muito degustado por sua pessoa. Ainda em sua fala, a aposentada lembra que
debaixo de duas grandes ingazeiras, os palmarinos da época, usufruíam das águas
do riacho que corriam sem a poluição que hoje o transformou num esgoto.
A “Morte”
do Canabrava
No seu
longo percurso entre paisagens, fazendas e lavouras na zona rural, o Canabrava
corre limpo, porém ao entrar no Povoado Santa Fé, onde existem alguns pavilhões
que abrigam famílias vítimas das enchentes de 1989, as águas do riacho começam
a mudar de cor. Daí em diante, recebe o esgoto sem tratamento oriundo de
milhares de residências e carrega toda essa sujeira de forma natural ao Rio
Mundaú.
Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto –
SAAE, cerca de setenta por cento do esgoto urbano cai in natura no Canabrava,
só dezoito por cento do esgoto residencial segue para duas lagoas de tratamento
que funcionam a cerca de quatro anos e estão localizadas próximas a Polícia
Rodoviária Federal, na entrada da cidade. Além do esgoto, o Canabrava recebe no
trecho urbano, lixo, animais em decomposição e até mesmo móveis inutilizados,
causando inúmeros transtornos no período chuvoso, onde as águas do riacho invadem
e contaminam as residências próximas ao seu leito. O risco de doenças como a
esquistossomose, cólera e outras é eminente.
Revitalização
do Riacho
A
professora e especialista ambiental, Aparecida Lopes, a Cidinha, coordena o
Centro de Informação Ambiental Sala Verde, que é um núcleo da secretaria de
educação de União dos Palmares. Questionada sobre a situação riacho e qual o
posicionamento da instituição frente ao problema, Aparecida disse que a Sala
Verde trabalha a educação ambiental nas escolas. “Diagnosticamos os problemas e
propomos as ações, a Sala Verde já realizou muitos projetos sobre o Canabrava
nas escolas”. Frisou a coordenadora, mostrando os trabalhos realizados na
educação ambiental do município.
O
secretário de meio ambiente de União dos Palmares, Manoel Bernardo, o Maninho,
disse que o município tem um projeto de revitalização do Riacho Canabrava. O
projeto prevê a arborização das margens do riacho, porém só será implantado,
segundo Maninho, quando o governo do estado através da Defesa Civil executar o
Plano de Remanejamento das margens do Canabrava, onde as residências foram
atingidas pelas enchentes de 2010. Com a execução deste Plano, as famílias que
residem nas margens do riacho seriam retiradas do local. “Iremos fazer plantio
de mudas nessas áreas, do mesmo jeito como fizemos nas margens do Rio Mundaú”.
Frisou o secretário.
Questionado
sobre a quantidade de dejetos que cai no riacho, o secretário falou que está
sendo executado há cerca de seis meses, o Plano de Revitalização da Bacia do
Mundaú. O projeto do governo federal e executado pelo estado está regularizando
as redes de esgoto de seis bairros que margeiam o Canabrava. Após a
regulamentação destas ligações, todo esse esgoto será direcionado as duas
lagoas de tratamento, localizadas na entrada da cidade, segundo Maninho as
lagoas comportariam esse esgoto, concluindo sem previsão de término, que o
Projeto de Revitalização da Bacia do Mundaú, irá livrar o Canabrava do esgoto
que o contamina./
Fonte: O RELÂMPAGO - JPFarias/ 24/08/2011