HISTÓRIAS DA POLITICA PALMARINA
União
precisa ser, também, a terra da Josefa, do Cícero, do Antonio, do João, do
Marcelo...Gilson Monteiro, Jornalista Palmarino |
- Nos últimos 50 anos passaram pela
prefeitura de União dos Palmares 15 prefeitos. Meio século de gestores de
todas as ideologias e partidos que deixaram um saldo minguado de
realizações. Tão minguado que, em pleno século 21, candidatos ainda usam
adjetivos como “mudança” e “avanço” em seu marketing de campanha.
Obviamente que correligionários, puxa-sacos e apaixonados ideológicos pelas sopinhas de letras partidárias vão levantar a voz e dizer que fulano fez a praça tal, beltrano calçou um bairro, e até mesmo dizendo que minha visão é pessimista. Mas vamos por os últimos 50 anos de administração de União na mesa e verificar: O que realmente foi feito nesse meio século?
Há meio século as precárias ambulâncias carregam doentes para a capital, seja para curar um câncer ou uma infecção intestinal. -
Há meio século União convive com doenças como esquistossomose, verminoses
e tuberculose. Mazelas do século 17, quando a cidade foi fundada. Ou seja,
nem nas doenças a cidade se “modernizou”.
Há meio século a Santa Fé vive num estado de miséria vergonhoso, inaceitável e constrangedor para qualquer cidadão que tenha direito às três refeições diárias. Gente tratada feito bicho, cuja única diferença de um animal está no fato de que portam título de eleitor para sustentar a elite. Nada mais.
Há meio século os grupos culturais sobrevivem sem apoio, mendigando um troco para dar uma contribuição crucial com o crescimento social do município, mas que os gestores ignoram para não modificar sua política do pouco pão e circo de péssima qualidade. - Há meio século estudantes se espremem em ônibus para vir estudar em
Maceió, com a agravante que nesta última década precisam pagar por isso.
Há meio século os palmarinos vivem ou do trabalho no setor sucroalcooleiro ou do pequeno comércio, que apenas inchou, fazendo milhares de pais e mães de família ratearem meia dúzia de fregueses sem perspectiva de crescimento.
Há meio século que os palmarinos são “empregados” por um comércio desumano, que rasga as leis trabalhistas, transformando o trabalhador numa máquina automatizada, sem folgas ou tempo para qualificação.
Há meio séculos pré-adolescentes vivem de “carregos” na feira-livre como forma de sobreviver dignamente, perdendo a infância e juventude, e o pior, deixando a escola em segundo plano.
Há meio século o Roberto Correia de Araújo/Vaquejada incham, se transformando, sob os olhos dos gestores, num verdadeiro mostro urbano tomado pela miséria e pela violência.
Essas respostas são minhas, mas podem ser colocadas na boca de qualquer morador que testemunhou os 50 anos da cidade. Acho difícil discordar que mudança e avanço não estão no dicionário dos gestores de União há décadas. Por isso acho constrangedor, irônico, um verdadeiro acinte, seja qual for o grupo político falar em “mudança”, “avanço” ou qualquer outro adjetivo hipócrita do tipo.
União não cresceu. Inchou. E “progredimos” sim, mas no pior sentido da palavra, pois já temos drogas, fome e prostituição. Nossa política nojenta de surrupiar os cofres do município inconsequente e desumanamente conseguiu “importar” o que há de pior nos grandes centros urbanos. Chega a ser chocante constatarmos que esse cenário pertence a um município que recebeu do governo federal, via transferência de recursos, R$ 262 milhões, arredondando-se para menos, somente nos últimos 5 anos. (Dados do Portal Transparência) -
União é, e tenho orgulho disso, a terra de Jorge de Lima, Maria Mariá e
Zumbi. Mas a luta de Zumbi na Serra da Barriga, um marco nacional, precisa
fazer parte do nosso passado, e não permanecer se repetindo no presente
das periferias miseráveis de União. A Nega Fulô precisa se transformar de
vez em poesia, e não permanecer nas cozinhas nada literárias da atual
elite que ainda não se deu conta da Lei Áurea. E para isso, é preciso
termos pelo menos, um naco da inteligência e caráter que teve nossa
imortal Maria Mariá.
União precisa ser, também, a terra da Josefa, do Cícero, do Antonio, do João, do Marcelo, do Sebastião, da Madalena e de tantos outros que estão escrevendo o futuro de uma terra que ainda não conheceu, de fato, a liberdade.
P.S.: Para os desavisados, sou palmarino, mas voto em Maceió. Não sou nem azul nem do encarnado! Gilson Monteiro.
Artigo
publicado em setembro de 2012