Por Pe. José Artulino Besen
Em 1678, Zumbi (o nome significa A força do espírito) assumiu
o lugar de Ganga-Zumba em Palmares e passa a comandar a resistência contra as
tropas portuguesas. Ele e a maioria do povo do quilombo não acreditaram na paz
dos brancos. A resistência negra durou até 1694, tendo sido necessárias 25
expedições militares para derrotá-la.
Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, no ano de 1655.
Teve a mãe assassinada quando fugia para o quilombo, mas foi capturado e
entregue ao vigário de Porto Calvo, Pe. Antônio de Melo, que o instruiu nas disciplinas
de latim, geometria, matemática e português. Recebeu o nome de José Francisco
da Silva. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670 e, com
quinze anos, retornou ao seu local de origem, o Quilombo de Palmares.
Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta
e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte anos.
Casou-se com Dandara, guerreira negra, mãe de seus três filhos.
Como vimos, Zumbi tinha assumido a liderança do quilombo em
1678 quando destituiu Ganga Zumba por ter assinado um tratado de paz com o
governador de Pernambuco, o que poderia preservar a República dos Palmares.
Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o
bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão
do quilombo. Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo, à frente de um
exército de 9 mil homens com escopetas e canhões, comandaram o ataque final
contra a Cerca do Macaco, na Serra da Barriga, principal quilombo de Palmares.
Era cercada com três paliçadas, cada uma defendida por mais
de 200 homens armados. Em 6 de fevereiro de 1694, após 92 anos de resistência,
Palmares sucumbiu ao exército português e foi destruída e, embora ferido, Zumbi
conseguiu fugir. Dandara, sua esposa, suicidou-se depois de presa, em 6 de
fevereiro de 1694, para não voltar à condição de escrava. A mesma sorte
escolheram muitos negros, atirando-se num precipício. Foi registrado um dos
grandes massacres da história brasileira, onde foram degolados homens, mulheres
e crianças.
Apesar de ter sobrevivido, Zumbi foi traído pelo companheiro
Antônio Soares e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça no reduto onde
se escondera. Apunhalado, resistiu, mas foi morto com 20 guerreiros quase dois
anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada
e levada, com o pênis dentro da boca, ao governador Melo e Castro. Em Recife, a
cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população
sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.
Ainda no mesmo ano, D. Pedro II de Portugal recompensou com 50 mil réis
o capitão Furtado de Mendonça por “haver morto e cortado a cabeça do negro dos
Palmares do Zumbi”.
Zumbi e grande parte dos palmarinos morreram, não seu povo e
sua cultura entranhados no povo brasileiro. O Brasil foi construído pelos
negros durante 400 anos: é inegável sua contribuição social, econômica,
cultural, política e religiosa. São apenas 100 anos de trabalho branco.
Conhecer a África e seus descendentes brasileiros é parte do conhecimento do
povo brasileiro.
* Não procede a tradição de que tenha comandado soldados na
batalha de Batalha de Mbwila/Ambuíla, no Congo, pois essa aconteceu em 1665. O
mesmo se diga a respeito de Zumbi: não era neto da princesa Aqualtune. É normal
que os heróis façam nascer mitos. A arqueologia na região dos Palmares ainda é
incipiente, mas, pode-se dizer, a bibliografia anglo-saxônica é mais objetiva a
respeito dos quilombos.
Fonte: JMarcelofotos