Por Joaquim Maria
Na minha infância, os recursos financeiros da família
eram poucos. Nós vivíamos com o pequeno salário que o meu pai ganhava no
trabalho no comércio. Estudávamos em escolas públicas e os brinquedos, que toda
criança gostaria de ter, era resumido em poucas opções; como bolas para os
meninos e bonecas para as meninas. O que
era raro, pois a prioridade era a alimentação e s contas mensais como água,
luz, etc.
Na verdade as crianças daquela época e que moravam em cidades
do interior, eram levadas à criatividade devido à falta de condições
financeiras dos pais. Por isso a inventividade de cada criança e capacidade de
imaginação era muito importante.
Muitos criavam carrinhos de madeira, com rodas também de
madeira coberta com uma fina camada de borracha, A cabine era de lata de óleo
de soja e as molas do mesmo material da cabine. Era tudo muito bem projetado.
Na frente do carrinho ficava o cordão para ser puxado. A velocidade, esta sim,
dependia de cada condutor quando havia algum desafio para uma corrida. A
estrada de terra batida da minha rua era um prato cheio para os capotamentos,
sem nenhuma gravidade é claro.
Na mesma rua, quem não conseguia construir um carro, teria
que achar outra opção para se divertir. Um ferro de uns 30 cm e pontiagudo,
servia para a meninada brincar de triângulo, fazendo marcas no chão. Brincávamos
com pião, feitos da madeira da goiabeira. Era melhor e produzia um som peculiar
quando estava rodando, o que era um diferencial de qualidade. Toda brincadeira
tinha as suas regras. Um recipiente de água sanitária, cheio de areia e puxado
por uma cordinha também se transformava em um carro. Cavalos de pau eram feitos de cabos de
vassouras. Tinha bolas de gude.
Mas o que eu e a maioria dos meninos gostávamos, eram as
bolas das marcas Canarinho ou Pelé. As bolas Dente de Leite eram mais pesadas e mais caras. Quando elas furavam
nas cercas de arames farpados ou em espinhos, sempre havia um jeitinho de
consertar as mesmas, aquecendo uma faca no fogo e passando suavemente, espalhando
um pequeno pedaço de plástico de outra bola que já tinha virado sucata e só
servia para este emprego. Feito o reparo, era hora de começar a pelada de novo.As
bolas também serviam para, tanto as meninas como os meninos, brincarem de
“queimado”.
Material esportivo naquela época era difícil. Comecei a
participar na Escolinha de Futebol do Sr. João Ferreira, no campo da Rua Nova.
Treinávamos e jogávamos descalços. Só comecei a jogar com chuteiras depois dos
15 anos. As chuteiras eram feitas pelo Sr. Jorge Peixoto. De couro duro e
rústico, fazia muito calos nos pés. Parecia uma bota e com os cravos feitos de
sola. Mas apesar de tudo, era uma grande satisfação jogar calçado.
As meninas acalentavam suas bonecas de plástico nos braços,
que geralmente eram compradas sem roupas. Por este motivo, as mães ou até
alguma menina, confeccionavam as roupinhas das “calungas”, como eram chamadas
as bonecas na minha região. Também brincavam de cantiga de roda... “Pai Francisco entrou na roda, tocando seu
violão...”, “Atirei o pau no gato, tô, tô, mas o gato não morreureu, reu...”. Eram
muitas cantigas.
Hoje, a possibilidade e a facilidade em adquirir um brinquedo
e com o preço acessível é muito grande. Naquela época era preciso ser muito
criativo.