Por Davi Soares
Se depender da disposição de vereadores palmarinos e de
ex-aliados como o senador Fernando Collor (PTB) e o deputado federal Francisco
Tenório (PMN), o destino do médico Beto Baía (PSD) já está traçado: será
afastado do mandato de prefeito de União dos Palmares, provavelmente ainda
neste mês, depois cassado, quando for finalizado seu julgamento político, após
as “investigações” de indícios de irregularidades entregues à Câmara Municipal
por um movimento chamado “O povo elege, o povo tira”. Seria um exemplo de
manifestação de cidadania em uma localidade que possui uma das raízes mais
profundas do coronelismo entre os municípios alagoanos. Mas é justamente este
ranço coronelista que já faz o rumo da apuração pela Comissão Especial de
Inquérito (CEI) descambar para as ameaças e intimidações.
A notícia da chegada na cidade de pessoas acusadas de crimes
no passado não é o único fato que tem apavorado denunciantes. O nível de
intimidação já se traduz em telefonemas ameaçadores e rondas por onde moram
denunciantes. Integrantes do grupo “O povo elege, o povo tira” já procuraram o
Conselho Estadual de Segurança Pública (Conseg) e devem pleitear pedidos para
que o Estado garanta proteção pessoal individualizada. A informação foi
confirmada por uma fonte do Conseg, que ainda não recebeu oficialmente os
pedidos para serem analisados pelo presidente do colegiado, o juiz Maurício
Breda. Após receber pedidos formais de vítimas de ameaças, o presidente do
Conseg pode decidir de imediato pela medida cautelar, ou esperar para
submetê-la aos demais conselheiros, após análise de um relator.
O pecado de Beto Baía é original: pelo “sonho de ser
prefeito”, reuniu jacaré e cobra d’água em uma aliança ampla, que possibilitou
sua eleição, em 2012. Sem cumprir acordos eleitorais, a situação piora cada vez
mais, refletindo no nível dos serviços públicos e na sua popularidade
extremamente baixa. As denúncias só agravam a situação do gestor, e podem
culminar em uma substituição pelo seu vice-prefeito, o pecuarista Eduardo
Pedrosa, cujo sobrinho e vereador Rafael Pedrosa preside a Comissão Especial de
Inquérito (CEI) instalada em fevereiro pela Câmara.
Vereadores pressionados
Em dezembro de 2013, o grupo “O povo elege, o povo tira”
apresentou à Câmara de Vereadores as denúncias de ilegalidades nos gastos e
dispensas de licitações na Prefeitura de União dos Palmares, junto com um
pedido de afastamento de Beto Baía. Também questionada pelo grupo sobre seus
gastos, a Câmara não agiu. Segundo os denunciantes, o Grupo Estadual de Combate
as Organizações Criminosas (Gecoc) do Ministério Público Estadual (MP) também
recebeu as denúncias e iniciou a apuração. O espírito cidadão baixou no
plenário do Legislativo palmarino somente após pedidos de informações feitos
pelo MP. Aleluia!
Com o incentivo de Collor e Tenório, que se preocuparam em
logo demonstrar o rompimento com o impopular ex-aliado, a Câmara tem 90 dias de
prazo, prorrogável por mais 45 dias, para apurar as denúncias contra o chefe do
Executivo de União. Mas a solução deve ser rápida, antes das convenções para as
eleições deste ano.
Mas algumas perguntas interessantes feitas pelo grupo
denunciante não podem ficar sem respostas nesta CEI: como andam as contas da
Câmara Municipal de União dos Palmares? Vamos ver quem responde primeiro, o
Gecoc ou os próprios vereadores!
O blog não conseguiu entrar em contato com o prefeito Beto
Baía, que já disse que acredita ter sido alvo de perseguição, porque derrubou a
hegemonia política do ex-governador Manoel Gomes de Barros (PSDB), em 2012.
Fonte: cada minuto