Opinião
Orgulho-me muito de um desportista brasileiro,
porque este é feito de pura abnegação pessoal e nenhum apoio público ou social.
Um é garçom durante o dia e treina seu sonho
desportista à noite.
Outro deixa no chão a enxada da labuta para subir e
descer morros de pastos, cheios de carrapatos, mas que os ajuda a criar forças,
para que um dia enfim, seu peito estufado de orgulho individual rompa a faixa
de chegada.
A primeira medalha de ouro olímpica recebida pelo
Brasil foi conseguida por Guilherme Paraense, depois de viagem acidentada até à
Bélgica, às próprias expensas, usando na competição um revólver calibre 38,
Smith & Wesson, emprestado por um competidor da equipe americana de tiro.
Assim são as coisas no país da esperança e do
sonho.
Quando calha de dar tudo certo, o aplauso.
Quando não, a vaia escrachada para mais um
vira-lata metido.
Assim são as coisas no país em que Clark Kent
forçosamente teria que ser sempre Super Homem, para ser jornalista.
Assim, somos todos os brasileiros, lutadores
presunçosos e individualistas, porque por aqui é cada um por si e Deus por
todos.
Quem sabe ainda chegue o dia que nosso orgulho
comece pela nobre humildade de somar a uma sociedade evoluída, com apoio, em
vez de descaso, com respeito, em vez de vergonha pelos escândalos promovidos
pelos nossos próprios líderes?
Quem sabe consigamos ir além do Panis et Circensis,
da obsessão futebolística e desportista e cheguemos a ter um Prêmio Nobel
brasileiro ou um vencedor de uma olimpíada internacional de estudos?
Quem sabe um dia, sejamos uma nação de cidadãos
progressistas e orgulhosos de sua liberdade, recompensados pela
responsabilidade de atos simples, mas que somem a uma coletividade mais digna e
justa, em vez da glorificação individual de heroísmos abnegados?
Quem sabe então, haja menos vergonha e mais
orgulho, menos craques e mais equipe?
Comentário de
Sérgio Werneck de Figueiredo em postagem de Luciano Pires-café Brasil