Tiro
de Getúlio Vargas no coração, saída meteórica de Jânio Quadros do Planalto,
desastre de JK e adeus de Arraes, no mesmo dia do neto, Eduardo Campos,
comoveram o Brasil
O caixão com o corpo de Getúlio levado por uma multidão |
O oitavo mês dos
calendários juliano e gregoriano poderia ser pulado na política brasileira. Com
os seus longos 31 dias, agosto entrou para a História do Brasil marcado por
tragédias. O mês viu de tudo: de suicídio e renúncia de presidentes da
República até mortes de ícones da política nacional. Entre eles, o
ex-presidente Juscelino Kubitschek e Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco
e símbolo da esquerda no país, morto no mesmo dia do seu neto, Eduardo Campos,
13 de agosto.
Há 60 anos, completados no próximo dia 24, o
presidente Getúlio Vargas se matou, no Palácio do Catete, com um tiro desferido
no próprio coração. O líder da Revolução de 30, pai dos pobres e fiador da
modernização do país, virou mito e adiou, por dez anos, a chegada dos militares
ao poder. Uma comoção nacional tomou o Brasil inteiro pela morte de Getúlio,
então presidente eleito. Ele voltara nos braços do povo, vitorioso nas urnas em
1950 — embalado pela marchinha “bota o retrato do velho outra vez/ bota no
mesmo lugar” —, cinco anos após o fim do seu período de ditador no Estado Novo
(1937-1945). Somente em 1964, com o golpe que depôs João Goulart, começaria o
regime militar, que se prolongou até 1985.
Por sinal, Arraes, um mito nas ruas de um dos mais
politizados estados do país, também voltaria ao poder, numa eleição histórica
para governador, em 1986. Após anos de exílio, na verdade, a população estava
devolvendo ao avô de Eduardo Campos, que morreria em 13 de agosto de 2005 após
ocupar por três vezes o Palácio do Campo das Princesas (sede do governo
estadual), o que os militares haviam tomado em 1964, quando, governador, fora
deposto.
Três anos antes do golpe de 64, uma crise política
sem precedentes sacudiu o Brasil. Eleito com o discurso de que varreria a
corrupção, Jânio Quadros renunciou à Presidência, em 25 de agosto de 1961, por
considerar inviável governar sob a Constituição de 1946. Ele não tinha apoio
das esquerdas, do PSD e, muitas vezes, até da UDN. Alguns historiadores
defendem a tese de que, ao deixar o governo, Jânio planejava voltar com o apoio
do povo, num golpe branco que não vingou. Em meio a pressões dos militares e à
campanha legalista comandada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola, Jango assumiu. A solução foi o parlamentarismo, negociado para garantir
a sua posse, e com Tancredo Neves como primeiro-ministro. Com poderes
reduzidos, Jango trabalhou pela volta do presidencialismo. Um amplo apoio
também se firmava pelo “não” ao parlamentarismo no plebiscito: Carlos Lacerda,
JK, Arraes e Brizola, por exemplo. Todos interessados em uma eleição em 1965,
que não ocorreu devido ao golpe militar.
Não foi em agosto, mas quase. Um dos líderes do
regime militar e seu primeiro presidente, o marechal Humberto de Alencar
Castelo Branco morreu em 18 de julho de 1967, também num desastre aéreo. Na
época ex-presidente (Costa e Silva o sucedera em março no Palácio do Planalto),
Castelo Branco estava no avião que se chocou com um jato de treinamento da FAB,
em Fortaleza. O acidente ocorreu às 9h45m, quando o avião do governo do Ceará
fora buscar o ex-presidente em Quixadá, na fazenda da escritora Rachel de
Queiroz.
Durante os anos de chumbo, um novo desastre abalou o
país. No dia 22 de agosto de 1976, o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu
num acidente de carro na Via Dutra. No quilômetro 165 da rodovia, o Opala que o
levava de São Paulo para o Rio ultrapassou a mureta divisória e bateu de frente
num caminhão. Na época, a polícia chegou a investigar a hipótese de um ônibus
ter batido de propósito na traseira do carro, dirigido por Geraldo Ribeiro.
Porém, o motorista do coletivo acabou absolvido por falta de provas. Em 1996, o
corpo de JK foi exumado, e o laudo oficial concluiu que ele morrera num
acidente .
Dois anos antes de morrer, JK recuperara seus
direitos políticos, cassados após o golpe de 64, e pretendia voltar à vida
pública. Para desgosto de multidões que choraram a sua morte pelo país, o sonho
havia acabado. Em seu funeral, em Brasília, 300 mil pessoas se despediram do
líder mineiro, cantando a música que marcara a sua vida: o “Peixe vivo”.
Fonte: OGLOBO.COM
acessado em 15 de agosto 11:34h