Participei (nesta quinta-feira 20/08/2015, das 9h às
13h30min) da Audiência Pública nº 06/2015, realizada na Câmara dos Vereadores,
cujo assunto girou em torno do Plano Municipal de Educação (PME), mas
precisamente a questão da “Ideologia de gênero”. Por tratar-se de um assunto
bastante polêmico gerou-se muita discursão, intrigas e, por vezes, zombarias
durante boa parte da audiência, como é de praxe.
Fiquei bastante intrigada com o fato das pessoas, em sua
maioria leigas ao assunto propriamente dito, levantarem suas bandeiras de luta
contra. Quando não, por vezes, se contradizendo em seus discursos
individualistas e preconceituosos. Sim, preconceituosos, porque não adianta
acreditarmos ou fingirmos acreditar que trabalhar a identidade de gênero (não a
ideologia, como afirmam) em sala de aula é desnecessário, impreciso e que pode
até acarretar a indução para com os alunos.
Pelo contrário, acredito que um dos objetivos do Plano
Nacional de Educação (PNE), no que compete à identidade de gênero, seja
introduzir com mais afinco o assunto em sala de aula, promovendo a discursão e
o tratamento do mesmo no ambiente escolar que, sabemos, não é de hoje que se
tenta trabalhá-lo, uma vez que já faz parte dos PCN’s (Parâmetro Curriculares
Nacionais) no espaço dedicado aos Temas Transversais (como saúde, religião,
ética, diversidade, sexualidade, orientação sexual, entre outros). Então, não
se trata de novidade, como pensam.
Por isso, sou a favor, sim, de políticas públicas
educacionais, políticas e sociais que tratem desse assunto; sou a favor, sim,
que se trabalhe a identidade de gênero em sala de aula; assim como sou a favor
da preparação/formação profissional do docente para trabalhá-lo adequadamente,
não da forma como foi exposta nesta audiência, com exemplos, expressões e
opiniões irrelevantes, contraditórias e bizarras.
Outra questão: o problema todo, pelo que foi explorado, foi o
fato dessas discursões de gênero serem introduzidas já a partir da Educação
Infantil. Outra contradição, pois as crianças, nessa modalidade, ainda não
possuem a maturidade suficiente para compreender esses aspectos de identidade,
uma vez que estão em formação psíquica e física. Por outro lado, a partir do
Ensino Fundamental Maior (6º ao 9º ano) em diante pode-se, sim, discuti-lo, o
público, digamos, já é mais amadurecido.
De forma geral, o que percebi de fato foram discursos
contraditórios e, por que não dizer, retrógados. Uma ressalva importante (na
verdade, compreendo bem a resposta): Por que o(s) palestrante(s) não se
mostrou, minimamente, imparcial ao assunto? E, a partir de sua imparcialidade,
o povo realmente opinasse? Que contradição, não?! Enfim. Pois seu ponto de
vista ficou bastante claro e evidente. Além do mais, o próprio vereador (não me
recordo o nome) deixou bem claro: “Na verdade, nós já havíamos decidido a
reprovação do PME (ou sua modificação), apenas o reconfirmamos agora, a partir
da democracia” Afirmaram não quererem ser os responsáveis pela desestruturação
familiar, pela usurpação de valores, muito menos consentir que o Estado decida
por eles, pais e mães, o futuro de seus filhos, se aprovada essa lei. Pois, é.
Em momento algum a interpretei desse modo. Mas, enfim, foi desaprovada, só
falta à sanção do prefeito.
Sem mais delongas, se vocês pensam que esse assunto deve
ficar e continuar dissociável do espaço escolar, por acreditarem influenciar
seus filhos e filhas a serem/tornarem homossexuais, e compete à família (só e
somente a esta) tratar do que for conveniente a ela, à sociedade, à opinião
externa, ao modelo de família... Bom, acredito muito no poder de transformação
que a educação (tanto escolar quanto familiar) possui e pode proporcionar, mas,
já nos dizia, muito bem por sinal, Paulo Freire que “ninguém é sujeito da
autonomia de ninguém”. E não adianta virar as costas, tapar os ouvidos e tratar
com desdém assuntos tão relevantes quanto esse, fingindo que isso não existe,
que não é realidade e que não é interessante para a escola. É só refletir e
perceber que o público escolar não é homogêneo, assim como a sociedade também
não.
Amanda Carla, Mulher, Universitária (UNEAL), Professora e
Militante da PJMP.