Por Joaquim
Maria
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Foto: Ivan Nunes CAGEAL - Hoje abrigo para sem teto |
Na década de 70, eu morava próximo ao campo de futebol, na
famosa Rua Nova, hoje Rua Edgar Sarmento; artéria importante da nossa cidade e
que ficava muito mais movimentada nos dias de domingo por causa dos jogos, no
velho campo esburacado, quase sem grama.
No final da rua, beirando a linha férrea, ficava o armazém da
CAGEAL (Companhia de Armazéns Gerais e Entrepostos de Alagoas), onde na época
da safra da cana de açúcar, da Usina Laginha, funcionava como depósito de
montanhas de sacos de açúcar mascavo, aquele não refinado; empilhados manualmente,
equilibrados uns sobre os outros, formando uma pirâmide doce e majestosa que
chegava até o teto do prédio, que era coberto por folhas de zinco.
Os sacos de açúcar eram transportados da Usina por meio de
tratores ou caminhões. Neste transporte, devido a precariedade das carrocerias,
os sacos eram furados por pregos ou até por lascas de madeira soltas; deixando
um rastro de açúcar pelo caminho, principalmente quando passava pela nossa rua
esburacada, ainda sem saneamento e calçamento.
Muitos moradores recolhiam a parte de cima dos pequenos
montes de açúcar, separando o produto da areia e levavam para casa para ser
consumido. Ao mesmo tempo, os garotos que estavam jogando bola no beco que liga
a Rua Nova à Rua São Pedro, que com certeza eu estava presente; também saíam em
busca dos montinhos de açúcar para
saborear aquela delícia, escura e ainda quente, concorrendo com as senhoras,
que vinham recolher o produto, nas suas latas ou panelas.
Depois de encher as suas vasilhas as mulheres voltavam para
suas casas para guardar o açúcar enquanto os meninos depois de saciar as suas
vontades, voltavam ao beco para continuar o jogo de futebol, de onde se ouvia a
voz de Dona Zefa, já falecida; mãe de Mário, que ainda hoje mora na mesma casa,
praguejando a todos pelo barulho das gargantas afinadas e pelo som dos chutes,
na bola da marca Canarinho ou Pelé.