Lembranças do Passado...
Durante décadas aqui no
Brasil, muita gente viajou de trem pela extinta Rede Ferroviária Federal
Sociedade Anônima (RFFSA).
Aqui em União dos
Palmares, o principal trecho da linha férrea ligava a capital alagoana à
pernambucana; necessário ao intercambio interestadual, de estudantes e
principalmente de comerciantes; pois estes procuravam as capitais para
encontrara as mercadorias mais baratas e que podiam repassar aos consumidores
locais com um preço melhor, preservando um lucro substancial.
Entretanto a chegada do
trem na nossa estação era motivo de festa e confraternização entre as pessoas.
Muitos chegavam e muitos partiam sem saber se voltariam a rever a sua terra
natal. Nestes casos era grande a comoção dos familiares e amigos, porque muitas
pessoas sabiam que estava vendo o seu ente querido pela última vez.
Na minha infância,
viajei muitas vezes a Maceió, na companhia dos meus pais, que eram
comerciantes, para adquirir mercadorias, comprarem roupas, sapatos para o uso
pessoal e utensílios domésticos, no comércio da nossa capital.
Mas me recordo com
saudade das viagens que fiz neste meio de transporte, porque naquela época, só
havia estrada afastada, para quem morava em União e queria ir até Maceió, só a
partir de Messias, na BR 101; o que tornava a nossa viagem de carro, uma grande
aventura; porque tínhamos que pegar um trecho de estrada carroçável de péssima
qualidade; principalmente no inverno.
Todavia a nossa viagem
começava em União, onde esperávamos o trem vindo de Recife.
Antes disso, as pessoas
esperavam o trem na estação, acomodados na sala de espera e até no pátio, pois
este momento servia para colocar a conversa em dia; pois os passageiros eram na
maioria das vezes os mesmos.
As passagens eram
compradas na própria estação e o ticket era um cartão grosso de forma
retangular para os adultos e para as crianças, como no meu caso; pagava-se meia
passagem, o que no bilhete, diferenciava-se por causa do corte em diagonal.
A composição era
formada por uma locomotiva, um ou dois vagões de carga e uns dez vagões de
passageiros. Havia a primeira e a segunda classe. Na primeira classe, as
poltronas eram acolchoadas, individual; lembro-me que era de cor azul e
reclinável, para o conforto do usuário, pois a viagem demorava cerca de 3
horas. Na segunda classe a poltrona era feita de madeira, onde em uma única
poltrona viajavam dois passageiros e sem o conforto da primeira classe. As
janelas eram duplas. Na primeira parte o passageiro poderia fechar só a janela
de vidro, para apreciar a paisagem da zona da mata alagoana, compreendida pelos
os imensos canaviais e pelas as culturas de subsistência como mandioca, milho e
feijão. A outra opção seria fechar além da janela de vidro a de madeira; para
escurecer o ambiente, necessário para quem queria tirar um cochilo. Na primeira
classe, os passageiros tinham a opção de comprar lanches, composto por
refrigerantes, cafés, sanduiches e bolos; servidos pelos funcionários da
ferrovia.
A saída de União se
dava, com o toque no sino da estação e posteriormente com dois apitos agudos,
dado pelo guarda ferroviárioque acompanhavam a composição. Logo após a partida
havia a supervisão das passagens, feita pela equipe de cobradores, que
viajavam, conferindo ou vendendo os tickets aos passageiros que porventura não tivesse
comprado no guichê da estação. A conferência era feita com a perfuração das
passagens, por uma espécie de alicate que os funcionários carregavam nos bolsos
do seu fardamento de cor azul.
Ao longo do trajeto,
havia as paradas nas estações de cada povoado e cidade por onde passava o nosso
trem. Depois de União, a composição não parava; mas diminuía a velocidade na
Usina Laginha, para que as pessoas pudessem embarcarno trem em movimento, coisa
inconcebível para os dias de hoje; por causa da segurança. As próximas paradas
eram nas cidades de Branquinha, no povoado Nincho, Murici, povoado Itamaracá, povoado
Lourênço de Alburquerque, Rio Largo, Satuba, Bebedouro e finalmente Maceió.
O retorno a nossa
cidade se dava por volta das 17 horas da estação de Maceió e com a chegada
prevista para as 20 horas.
A viagem era um
acontecimento prazeroso e ao mesmo tempo uma necessidade da época; onde os
meios de transporte e principalmente as estradas asfaltados eram coisa de
cidades e estados mais desenvolvidos.
Por Joaquim Maria