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Dr.Fernando Antonio da Silva |
A proposta partiu do Coletivo Raça Negra, composto por estudantes
negras e negros e representantes discentes do Instituto de Geociências (IG) da
Unicamp: dar o nome de Fernando Antonio da Silva ao auditório do
recém-inaugurado edifício do IG que passou por uma reforma completa e em breve será
o mais novo espaço para eventos da universidade.
Fernando
Antonio da Silva foi pós-graduando em Geografia da Unicamp e faleceu em março,
em Sobral, no Ceará, meses após finalizar o doutorado, aos 26 anos de idade. Em
carta, o Coletivo destaca a trajetória pessoal e acadêmica de Fernando.
“Não
há hoje na Unicamp auditórios, prédios, bibliotecas que homenageiam estudantes
egressos desta Universidade. Nossa homenagem a Fernando Antonio da Silva será
também um marco do que pretendemos construir enquanto comunidade acadêmica,
porque trabalha pela maior representatividade de estudantes negros e
periféricos, e reconhece o trabalho de um geógrafo que é referência nos estudos
sobre o Bolsa Família”, diz a carta, que é ponto de pauta da reunião da
Congregação do Instituto de Geociências da Unicamp, nesta quarta-feira, 22 de
agosto de 2018.
Fonte: http://agbcampinas.com.br
UM POUCO DA HISTÓRIA DE FERNANDO ANTONIO...
A UNICAMP fez um Seminário em homenagem ao nosso Fernando Silva...“𝐃𝐨𝐬 𝐂𝐚𝐧𝐚𝐯𝐢𝐚𝐢𝐬 𝐀𝐥𝐚𝐠𝐨𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚𝐬 𝐁𝐢𝐛𝐥𝐢𝐨𝐭𝐞𝐜𝐚𝐬 𝐝𝐚 𝐔𝐧𝐢𝐯𝐞𝐫𝐬𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞”...
Esse título descreve de um jeito muito lindo a história DELE... (𝐇𝐄𝐋𝐄𝐍𝐀, 𝐌Ã𝐄) "Contar a
história do Fernando é muito difícil pra todos nós familiares é como se
pudéssemos voltar no tempo e reviver todos os bons momentos com ele, nessa
volta, podemos até mesmo tocá-lo e sentir o cheiro do seu perfume, ouvir o som
calmo e suave da sua voz, mas, sem o principal, envolvê-lo num forte abraço
caloroso da família e fazer uma viagem no tempo o trazendo de voltar vivo com a
gente e pra gente! É a pior sensação que existe"... (𝐆𝐄𝐑𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐏𝐀𝐈)
"Ele era primeiramente Deus era tudo na minha vida, perder ele foi a mesma
coisa de ter se acabado o mundo, como é que pode o pai enterrar o filho... (𝐒𝐈𝐕𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) No final de 1990 a
gente morava aqui... no sítio lá perto da Serra da Barriga... de manhã nós
cuidava dos cavalos fazia de tudo no sítio lembro que quando dava 11 horas o
Fernando já ficava aguniado pra tomar banho e vestir a roupa da escola, meu
Deus, era ele quem puxava a gente mesmo sendo o menor dos 3, nunca atrasava
meio dia em ponto pegava o caderno e a bicicletinha dele e chamava nós... Era
difícil ter uma prova que ele não tirasse a nota maior da turma e quando não
tirava tinha a coragem de ir questionar a professora e muitas vezes ganhava o
que queria e ainda arrancava o sorriso dela... os elogios a inteligência dele
eram tantos... (𝐂𝐈𝐂𝐄𝐑𝐀, 𝐈𝐑𝐌Ã)
Quando fomos estudar na rua e o carro não subia por causa da chuva... muitas
vezes o Fernando se juntava com um grupinho de colegas e ia a pé pra aula... o
Fernando praticamente não chegou a faltar nenhum dia... sempre dava um
jeito... (𝐉𝐎𝐒𝐄𝐅𝐀, 𝐈𝐑𝐌Ã)
Sabíamos que o Fernando era muito inteligente mas eu não pensei que ele fosse
continuar se destacando tanto nessas escolas da rua que eram bem maior que a
escola do sítio... Aquele menino magrinho, sorriso encantador e “muito
insistente nas coisas que fazia” foi cada vez mais sendo conhecido por onde
passava ele cativava os professor fácil que se rendiam quando viam as tarefas
dele e muitos até comentava que não entendia como um menino vindo lá das grotas
da Serra da Barriga tinha tanta sabedoria.. (𝐒𝐈𝐕𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) No ano de 2002 nós
saiu do sítio e fomos morar aqui na cidade de União dos Palmares... Eu
realmente penso que se o Fernando não tivesse nascido, por exemplo, nós tinha
desistido de estudar antes com todas aquelas dificuldades... a gente morava num
bairro um pouco afastado da cidade e saía de madrugada empurrando um carrinho
de mão pra “pegar carrego” (carregar feira do povo pra ganhar trocado) e trazer
dinheiro pra casa pra ajudar... Ele dava tudinho que ganhava pra nossa mãe não
ficava com nada, tipo, pra gastar na escola “essas coisas”..(𝐋𝐔𝐂𝐀𝐒, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) Com 17 anos
Fernando terminou o ensino médio e logo entrou na universidade, pra cursar
Geografia na UNEAL... (𝐆𝐄𝐑𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐏𝐀𝐈)
Meu Fernando era um menino batalhador vivia estudando dentro do quarto não saía
pra farra nenhuma... (𝐇𝐄𝐋𝐄𝐍𝐀, 𝐌Ã𝐄) Ele não gostava de
comprar nada pra ele de gastar nada com ele... só guardava dinheiro pra uma
coisa, ah isso era sagrado... “comprar livros e essas viagens que ele ia pra
esses eventos aí da faculdade”! (𝐒𝐈𝐕𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) Quase no fim do
curso mais uma surpresa boa Fernando veio me contar que tinha escrito um livro
com o professor Reinaldo lá
na UNEAL... (𝐇𝐄𝐋𝐄𝐍𝐀, 𝐌Ã𝐄) Aí ele veio contar
a gente que tava organizando uma festa pra apresentar esse livro pras pessoas e
que todos nós família dele tinha que tá lá presente (𝐆𝐄𝐑𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐏𝐀𝐈)
Naquele dia eu fiquei tão emocionado que “eu sentir que tava nos ares que não
tava pisando no chão que tava no céu... ele foi o que falou mais bonito ali
naquele microfone pra apresentar o livro... Nunca vou esquecer daquele
dia... (𝐋𝐔𝐂𝐀𝐒, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) Ele concluiu a
graduação com trabalho a nível de excelência e passou pra fazer mestrado na
UNICAMP... (𝐇𝐄𝐋𝐄𝐍𝐀, 𝐌Ã𝐄) Tava tão orgulhosa
tão orgulhosa, mas confesso que fiquei com meu coração dividido uma angústia
muito grande por ter que viver longe dele... (𝐆𝐄𝐑𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐏𝐀𝐈)
Eu não parava de me perguntar onde aquele menino tinha achado tanta coragem pra
enfrentar aquele viagem e agora ficar lá longe daqui da nossa terra só
estudando lá sozinho, meu Deus... (𝐋𝐔𝐂𝐀𝐒, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) Minha mãe chorou
muito no dia quando o Fernando foi pegar o avião pra ir pra Campinas...
Passaram-se uns dois anos... tivemos mais uma grande notícia, o nível da
pesquisa de mestrado dele estava tão bom que os professores o passaram
diretamente pra o doutorado, aí começou a surgir uma das teses mais importantes
sobre a pobreza no nosso estado "𝐀 𝐏𝐎𝐁𝐑𝐄𝐙𝐀 𝐍𝐀 𝐑𝐄𝐆𝐈Ã𝐎 𝐂𝐀𝐍𝐀𝐕��𝐄𝐈𝐑𝐀 𝐃𝐄 𝐀𝐋𝐀𝐆𝐎𝐀𝐒 𝐍𝐎 𝐒É𝐂𝐔𝐋𝐎 𝐗𝐗𝐈: 𝐃𝐎 𝐏𝐑𝐎𝐆𝐑𝐀𝐌𝐀 𝐁𝐎𝐋𝐒𝐀 𝐅𝐀𝐌Í𝐋𝐈𝐀 À
𝐃𝐈𝐍Â𝐌𝐈𝐂𝐀 𝐃𝐎𝐒 𝐂𝐈𝐑𝐂𝐔𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐃𝐀 𝐄𝐂𝐎𝐍𝐎𝐌𝐈𝐀 𝐔𝐑𝐁𝐀𝐍𝐀"... (𝐆𝐄𝐑𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐏𝐀𝐈)
Em 2017 ele defendeu o trabalho dele tanta pesquisa meu Deus tanto esforço ah
como eu queria ter ido assistir, me doeu no coração não ver a realização do
maior sonho do meu filho... (𝐋𝐔𝐂𝐀𝐒, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) Não foi fácil
chegar até ali, meu pai cortou muita cana e aguentou muita humilhações na
vida... minha mãe fazia milagre com a pequena renda da família... e o Fernando
virou noites de leitura quando morava sozinho em Campinas, foram vários
momentos de solidão que ele passou longe da gente, tanto esforço deles
impossível de descrever aqui em palavras.... (𝐘𝐀𝐒𝐌𝐈𝐍 𝐋𝐀𝐔𝐑𝐀, 𝐈𝐑𝐌Ã)
Se aproximava a hora do nosso Fernando voltar a morar com a gente... fizemos
uma festinha pra recebê-lo e homenagear o primeiro membro da nossa família a se
formar Doutor, o nosso Doutor Fernando. Lembro que ele ficou muito emocionado e
agradeceu bastante a todos ali em especial a família em suas palavras “𝐀 𝐌𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐁𝐀𝐒𝐄”... (𝐆𝐄𝐑𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐏𝐀𝐈)
Tudo que Deus faz é bem feito, tudo tudo... eu nunca pensei que um filho de um
cortador de cana chegaria tão longe assim... (𝐂𝐈𝐂𝐄𝐑𝐀, 𝐈𝐑𝐌Ã)
De repente, do nada sem explicação nenhuma... o mundo de todos nós desabou, a
pessoa que a gente mais amava na vida... morreu... não não, não tinha a minima
condições de ser verdade... (𝐉𝐎𝐒𝐄𝐅𝐀, 𝐈𝐑𝐌Ã)
Não, não é possível de jeito nenhum o Fernando ter nos deixado assim sem
explicação nenhuma... (𝐒𝐈𝐕𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) Eu perguntava
repetitivamente pra o Lucas ao telefone se ele tinha certeza do que tava
falando... E quando eu percebi que era tudo verdade meu mundo simplesmente
acabou... como se conformar em perder a pessoa mais amada da família... jovem
com uma vida pela frente, assim sem explicação nenhuma... (𝐋𝐔𝐂𝐀𝐒, 𝐈𝐑𝐌Ã𝐎) Tive que
presenciar meus pais receberem essa notícia sem ao menos qualquer explicação do
que ele tinha morrido... Meu Deus, quanto desespero... (𝐇𝐄𝐋𝐄𝐍𝐀, 𝐌Ã𝐄) Não existe palavra
no mundo pra descrever essa dor, meu Deus, é uma carga terrível
demais pra suportar, como pode meu Fernando ter morrido sem socorro nenhum sem
explicação ele tava bonzinho... (𝐆𝐄𝐑𝐀𝐋𝐃𝐎, 𝐏𝐀𝐈)
Deus meu, foi a mesma coisa de ter arrancado meu coração e eu ter que continuar
vivo sentindo a dor, aquela dor que eu sentir naquele dia ninguém nunca vai
arrancar do meu peito, eu vou morrer com ela... se ele tivesse morrido na vista
da gente, se tivesse uma explicação certa do que foi aí eu ia pedir força a
Deus pra me conformar, era o que me restava... (𝐘𝐀𝐒𝐌𝐈𝐍 𝐋𝐀𝐔𝐑𝐀, 𝐈𝐑𝐌Ã)
“Laura obedece mamãe e papai.. Laura você é a caçula temos que ter um cuidado
especial com você... Edson Gomes Reggae é bom demais .. Fernando fica aqui em
união trabalha aqui.. tem como não Laura como agente vai viver? Quando eu
receber aqui no Ceará agente vai viver uma vida mais sossegada... Fernando pra
que fazer tantos planos não é melhor deixar acontecer? Não Laura a vida é feita
de planejamento .. Fernando eu não aguento mais essa vida com tu aí longe e a
gente aqui, queria morrer... oxe Laura? Viver é bom demais apois quem não
quiser viver der sua vida pra mim que eu quero. Porque viver é bom
demais"... Por mais que o tempo passe nunca vou acreditar que nunca mais
estarei na magia da tua presença meu Fernando...
(TODOS NÓS) O Fernando chegou em Sobral numa
sexta feira dia 02/03/2018 onde foi recebido pela sua
orientadora de pós doutorado. Há exatos três dias que ele estava hospedado Num
hotel, numa segunda dia 05/03/2018, pela manhã, foi simplesmente encontrado
morto em seu leito, mesmo dia em que exatamente saiu o resultado final do concurso
da UPE, passou em primeiro lugar. O maior pesadelo de nossas vidas havia
acontecido, e pra tornar intensamente mais dramática a nossa situação foram nos
dado apenas um conjunto de explicações "confusas", até hoje, 7 meses
depois, não sabemos ainda porque o hotel demorou tanto pra dá pela falta dele e
abrir a porta do quarto visto que ele passou o domingo 04/03/2018 inteiro
sumido, não sabemos ao certo se ele ainda foi encontrado com vida, não sabemos
a posição que o corpo foi encontrado, enfim, não sabemos de praticamente
nada. Já foi enviado a essa delegacia de Sobral um documento da prefeitura
daqui de União dos Palmares e outro da associação dos Geógrafos de
Campinas cobrando investigações, entretanto, essas autoridades continuam sem
agir. Já sugerimos formalmente por
meio de advogado linhas de investigações, primeiro, na noite
de sábado 03/03/2018 o Fernando fez uma reclamação via telefone
celular afirmando que o ar condicionado do seu quarto estava soltando um cheiro
estranho, e, segundo, o concurso público da UPE que ele estava
concorrendo e foi aprovado em primeiro lugar pra professor da UPE-Universidade
de Pernambuco justamente no mesmo dia que foi encontrado morto , e, terceiro, a
temática do pós doutorado dele era bastante delicada dado o momento político
que passamos “DIREITOS SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO: PROGRAMA BOLSA
FAMÍLIA E CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA EM SOBRAL (CE), PETROLINA (PE) E
ARAPIRACA (AL)”, por se tratar de uma política pública de um governo
especifico, há ai pra muitos um posicionamento político partidário, e de fato o
Fernando defendia aquilo que acreditava de forma veemente, sempre lutando por
melhorias pra todos. Mesmo assim, o inquérito continua parado,
nem o rapaz do hotel que achou o corpo foi chamado pra depor, ou seja, nem o
básico está sendo feito. O médico George Sanguinetti teve acesso aos
laudos do caso e postou a sua opinião no Facebook, lá ele deixa claro que é
muito difícil que a morte do nosso Fernando tenha sido natural, e
aponta de forma clara a possibilidade de envenenamento. Estamos
desesperados, não sabemos mais a quem recorrer, queremos que a memória do
Fernando seja honrada e respeitada e não que ele continue sendo tratado com
tanto descaso... "Nós precisamos de esclarecimentos"! Não aguentamos
mais, acordar e olhar pra os nossos pais, desesperados, tentando entender o que
houve, passando horas e horas pensando procurando uma resposta, "perdido
num vazio sem saída". Queremos fazer um apelo as autoridades e
instituições alagoanas, por favor, nos ajudem, pra nós familiares seria como
uma segunda morte do Fernando permitir que a situação fique assim sem
esclarecimentos!